EXPLICAÇÕES DO MESTRE

As explicações do Mestre, é um convite para empreendermos a reforma de nossa casa íntima. Mas, que reforma é esta? A moral. Mas, que moral? A dos nossos comportamentos, atitudes, ações, pensamentos, sentimentos e etc. Reforma que tantas e tantas vezes menosprezamos, deixando-a ao abandono por a considerarmos desnecessária. E enquanto isto, a nossa casa íntima vai se encaminhando rapidamente para os escombros das doenças fisiológicas, das complicações psicológicas e emocionais...

 

Tudo aquilo que não é trabalhado, estagna-se e apodrece!

 

Bem, mas retomando a linha do texto, alguns podem perguntar: No entanto, onde estão os contemporâneos de Jesus? Eu não me incluo aí. Não vivi em seu tempo! E este é o nosso mal. Sempre atribuímos culpas e etc aos outros, mas nunca nos vemos ou estamos inclusos nas situações ou contextos... Então, onde estão todos aqueles que há 2.000 e poucos anos ficaram sabendo Dele e de suas obras? Ou, daqueles outros, que nunca ouviram falar Nele, apesar de, igualmente, terem vivido em seu tempo? Ora, ora... Somos nós mesmos, os que aqui hoje nos encontramos. Assim, se no ontem pervertemos os ensinamentos de Abraão, Moisés e tantos outros; hoje, não fazemos nada diferente com os ensinamentos do Divino Enviado. Deste modo, não é de se admirar, ao relancear meu olhar para mim mesmo e para meus contemporâneos, ver-nos fazendo do mesmo modo daqueles povos do tempo de Jesus. Apenas mudamos o foco: Ontem era Abraão e Moisés, hoje é Jesus.

 

Bom, que possamos estar com os olhos despertos o suficiente para vermos nas Explicações do Mestre o convite eterno a transformarmos a nossa própria moradia imortal.

 

Explicações do Mestre

Em plena conversação edificante, Sara, a esposa de Benjamim, o criador de cabras, ouvindo comentários do Mestre, nos doces entendimentos do lar de Cafarnaum, perguntou, de olhos fascinados pelas revelações novas:

— A ideia do Reino de Deus, em nossas vidas, é realmente sublime; todavia, como iniciar-me nela? Temos ouvido as pregações à beira do lago e sabemos que a Boa Nova aconselha, acima de tudo, o amor e o perdão... Eu desejaria ser fiel a semelhantes princípios, mas sinto-me presa a velhas normas. Não consigo desculpar os que me ofendem, não entendo uma vida em que troquemos nossas vantagens pelos interesses dos outros, sou apegada aos meus bens e ciumenta de tudo o que aceito como sendo propriedade minha.

A dama confessava-se com simplicidade, não obstante o sorriso desapontado de quem encontra obstáculos quase invencíveis.

— Para isso — comentou Pedro —, é indispensável a boa vontade.

— Com a fé em Nosso Pai Celestial — aventurou a esposa de Simão —, atravessaremos os tropeços mais duros.

Em todos os presentes transparecia ansiosa expectativa quanto ao pronunciamento do Senhor, que falou, em seguida a longo silêncio:

— Sara, qual é o serviço fundamental de tua casa?

— É a criação de cabras — redarguiu a interpelada, curiosa.

— Como procedes para conservar o leite inalterado e puro no benefício doméstico?

— Senhor, antes de qualquer providência, é imprescindível lavar, cautelosamente, o vaso em que ele será depositado. Se qualquer detrito ficar na ânfora, em breve todo o leite se toca de franco azedume e já não servirá para os serviços mais delicados.

Jesus sorriu e explanou:

— Assim é a revelação celeste no coração humano. Se não purificamos o vaso da alma, o conhecimento, não obstante superior, se confunde com as sujidades de nosso íntimo, como que se degenerando, reduzindo a proporção dos bens que poderíamos recolher. 

Em verdade, Moisés e os Profetas foram valorosos portadores de mensagens divinas, mas os descendentes do Povo Escolhido não purificaram suficientemente o receptáculo vivo do espírito para recebê-las.

É por isto que os nossos contemporâneos são justos e injustos, crentes e incrédulos, bons e maus ao mesmo tempo. O leite puro dos esclarecimentos elevados penetra o coração como alimento novo, mas aí se mistura com a ferrugem do egoísmo velho. Do serviço renovador da alma restará, então, o vinagre da incompreensão, adiando o trabalho efetivo do Reino de Deus.

A pequena assembleia, na sala de Pedro, recebia a lição sublime e singela, comovidamente, sem qualquer interferência verbal.

O Mestre, porém, levantando-se com discrição e humildade, afagou os cabelos da senhora que o interpelara e concluiu, generoso:

— O orvalho num lírio alvo é diamante celeste, mas, na poeira da estrada, é gota lamacenta. Não te esqueças desta verdade simples e clara da Natureza.

(Jesus no Lar, pelo espírito Neio Lucio, psicografia Chico Xavier.)